quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Guaraqueçaba está sem estrutura médica



Magaléa Mazziotti

A fé ganha uma conotação ainda mais ampla quando o assunto é saúde, ou melhor, a falta de qualquer amparo em situações agudas, como crises hipertensivas ou picadas de animais peçonhentos.

Talvez isso explique a razão do grande número de templos de instituições religiosas espalhados por Guaraqueçaba e localidades do entorno. Como os próprios moradores definem, a ausência de uma estrutura eficiente para o atendimento emergencial só não acarreta em uma tragédia fatal “porque Deus não quer”.

Uma das localidades que ilustra bem a situação é Itaqui, onde a população leva de duas a três horas para chegar a uma unidade da saúde, mesmo tendo na vizinhança um monumento da negligência dos poderes públicos: um miniposto de saúde completamente abandonado.

A residência da agente comunitária Simone Modesto Honorato é o local procurado quando a enfermidade acomete alguém subitamente. E o carro de Sílvio Simões, marido da agente, é a condução habitual de socorro aos vizinhos. “Nesta semana, mais uma vez, o carro estragou após levarmos uma pessoa que foi picada por uma jararaca para ser atendida no posto de Tagaçaba”, contou.

Vale notar que tanto as picadas de cobras venenosas, quanto o fato de veículos estragarem pelo caminho, na região, é parte da rotina dos moradores, visto que as comunidades vivem em uma região de Mata Atlântica e as vias de acesso não são pavimentadas.

“O deslocamento é difícil e demorado e, por vezes, as pessoas ficam ilhadas devido às fortes chuvas”, reconhece o secretário municipal de Saúde, Ezequiel Ribeiro da Silva. “Entre carros para atendimento terrestre e as chamadas “ambulanchas’, como são conhecidas as lanchas que atendem pelo mar, temos 10 veículos. Mas toda semana, pelo menos um fica parado para reparo”, conta o secretário.

Tal número serve para atender todo o município que, em extensão territorial, é o quarto maior do Estado, com 2.020 quilômetros quadrados. Curitiba, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem apenas 435 quilômetros quadrados.

“A população, porém, fica perto de 8 mil habitantes. Por eles estarem dispersos em toda essa área, fica complicado e muito custoso manter uma unidade de saúde para atender entre 100 e 200 pessoas. Não há como justificar para o Ministério da Saúde a existência de uma unidade para atender de um a dois pacientes por dia. É inviável do ponto de vista financeiro”, analisa o secretário.


Promessa

A grande expectativa do município em relação a uma solução eficiente para a questão se concentra em uma das promessas de campanha do governador Beto Richa, sobre a otimização do atendimento médico aéreo para comunidades isoladas.

“Nos próximos meses, a população já observará os reflexos do trabalho de reorganização da cobertura aérea para atendimento de emergência e socorro à população”, assegura o diretor de Políticas de Urgência da Secretaria Estadual de Saúde, Vinícius Filipak.

Acesso precário a remédios

Exatamente ontem, chegaram à Secretaria de Saúde de Guaraqueçaba os sete medicamentos de uso contínuo que desde novembro de 2010 estavam em falta. Tais remédios integram uma relação de 209 itens, viabilizados pelo Consórcio Paraná Medicamento.

“Na transição de governo, os remédios prescritos para a população daqui atrasaram mesmo. Recebemos nesta sexta-feira os itens que faltavam e, agora, estamos organizando os kits de 90 dias para distribuirmos aos agentes comunitários”, disse o secretário municipal, Ezequiel Ribeiro da Silva.

Uma das atingidas pelo atraso da medicação foi a dona de casa Derli Mendes Pires, de 30 anos, moradora da localidade de Itaqui. “Precisei ir até Paranaguá para conseguir o remédio, já que a agente comunitária ficou sem nada”, recorda.

“Minha pressão subiu muito com o medo de ficar sem o medicamento. Tenho cinco filhos para criar e não posso ficar inválida. Sinto que vivo como uma bomba-relógio, com a pressão prestes a explodir.”

A agente comunitária Simone Modesto Honorato diz que esse clima de tensão tem sido constante. “Sempre nos encontramos em situações limites e sem ter o que fazer. Não sou capacitada e nem autorizada a aferir pressão ou prestar atendimento, porém, é a mim que a comunidade procura. Meu medo é perder um vizinho ou ver alguém ficar com sequelas devido à demora no atendimento e ao abandono do posto de saúde daqui”, explica Simone.

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